A história da baleação nos Açores
A história da baleação nos Açores parece começar ainda no século XVIII, quando chegam aos mares açorianos navios baleeiros vindos de Nova Inglaterra, por perceberam a abundância de cetáceos nas águas da Região.
As difíceis condições de vida do povo insular desta época e a presença frequente de embarcações baleeiras americanas nos Açores, fizeram com que muito jovens açorianos fossem seduzidos e recrutados para a caça à baleia americana, o que representava uma grande oportunidade de trabalho.
A valentia e bravura dos açorianos foi referia por Herman Melville, num dos maiores clássicos da literatura mundial, Moby Dick (1851):
“Não poucos destes caçadores de baleias são originários dos Açores, onde as naus de Nantucket que se dirigem a mares distantes atracam frequentemente, para aumentar a tripulação com os corajosos camponeses destas ilhas rochosas. […] Não se sabe bem porquê, mas a verdade é que os ilhéus são os melhores caçadores de baleias”.
Integrados nas tripulações dos navios-fábrica, os açorianos conheceram técnicas de baleação, aprenderam a derreter a carne que era transformada em óleo e a retirar das cabeças o espermacete.
Por volta de 1864, muitos deles regressaram ao arquipélago para dar início à indústria da baleia nos Açores.
E foi já no século XIX, durante o declínio da produção de vinho e da laranja, que se construíram os primeiros botes e se avançou mar adentro.
Utilizando o modelo “shore whaling”, devido à profundidade do mar e da proximidade de cachalotes com a costa, os baleeiros lançavam-se à água nos seus botes e remavam até alcançar a baleia.
Apesar dos métodos artesanais, foram capturadas milhares de baleias.
Tudo se iniciava com os postos de vigilância, posicionados em locais elevados, onde os vigias permaneciam durante horas a observar o horizonte, na procura de qualquer movimento que indicasse a presença de cachalotes.
Avistados que eram os gigantes dos mares, era lançado um foguete pelo vigia, dando a indicação aos homens para que deixassem todos os seus afazeres e seguissem para o mar; uma luta que poderia durar horas ou dias.
E a batalha acontecia utilizando-se arpões e lanças, perfurando o animal e trancando-o. Depois de morto, o animal flutuava e traziam-no para terra.
Um modo de vida ousado e perigoso, e que muitas vezes terminava sem o regresso dos sete tripulantes do bote, uma embarcação à vela e a remos que teria metade do tamanho de um cachalote adulto (pode medir até 20 metros de comprimento e pesar até 45 toneladas).
Estando o cachalote em terra, iniciava-se o desmancho do corpo do animal e aproveitava-se praticamente tudo.
O óleo (azeite) extraído da carne derretida servia como combustível para iluminação, como lubrificante e também para fazer velas, sabão e margarina; dos intestinos retirava-se uma substância usada na perfumaria e cosméticos; dos ossos faziam-se espartilhos, pentes, escovas e artesanato; e os restos das carnes e ossos serviam para alimentar animais ou fertilizar as terras.
Os derivados do cachalote eram exportados para várias partes do mundo.
Até à década de 1930, a extração do óleo ainda era processada pelos baleeiros de forma artesanal. Em meados do século XX, esse trabalho foi sendo substituído pela industrialização do processo.
A caça à baleia foi de uma importância extrema para os Açores, nomeadamente para as ilhas do Pico, Faial e São Miguel, onde existiam fábricas de transformação de baleias e comunidades inteiras dedicadas ao processamento integral do cachalote para obtenção dos subprodutos.
Entretanto o tempo passou e o mundo mudou.
E o óleo que antes servia para lubrificar as máquinas que embalavam a revolução industrial e para iluminar as cidades do mundo deixou de ser necessário com o surgimento da indústria petrolífera, sendo o óleo de baleia substituído pelo petróleo. As baleias não eram mais rentáveis.
Ao mesmo tempo, muitas espécies de baleias, devido à caça desmedida e sem controlo em todo o globo, encontravam-se em vias de extinção, o que levaria ao inevitável colapso da indústria pela falta de matéria prima.
Dessa forma, em 1984 decreta-se a proibição da caça comercial da baleia, sendo aceite pela maioria dos países.
Em 1987 foi capturado o último cachalote nos Açores.
Com o fim deste modo de vida, os Açores tiveram que se adaptar aos novos desafios.
De modo a preservar a tradição e a memória baleeira, tão enraizada no povo insular, criaram-se museus das antigas fábricas, recuperaram-se botes baleiros e preservaram-se os utensílios com que se caçavam os cachalotes.
Foram também criadas regatas anuais com os antigos botes, nomeadamente nas ilhas do Grupo Central, em que competem equipas de diferentes ilhas.
Para além de preservar o património baleeiro da Região, os açorianos perceberam a importância e a necessidade da salvaguarda dos cetáceos e de como isso poderia atrair turismo e trazer benefícios para as ilhas.
Nascia assim a observação de cetáceos nos Açores ou o whale watching.
Ao contrário de outros tempos, atualmente, perseguem-se cachalotes e outras baleias para as observar no seu habitat natural.
O arquipélago tornou-se numa espécie de lugar de culto para esta prática e um dos melhores destinos da Europa para ver baleias e golfinhos.
Uma atividade ecológica que atrai turismo de todo o mundo e que se mostra extremamente rentável. E são várias as empresas de whale watching nos Açores, com diferentes embarcações para conforto dos clientes.
Tal como no passado, as baleias são novamente essenciais para os açorianos, que transitaram de caçar baleias para as proteger.
Junto ao arquipélago já foram identificadas cerca de 28 espécies diferentes de cetáceos, o que representa um terço das espécies do mundo. O cachalote é o mais comum e aquele que se pode encontrar durante todo o ano.
O mar dos Açores apresenta-se assim como um dos maiores ecossistemas do planeta, pelo que deve ser protegido e valorizado a todo o custo.
Veja mais:
http://turismo.cmhorta.pt/index.php/pt/
http://www.museu-pico.azores.gov.pt/
https://ensina.rtp.pt/
https://historiadosacores.tumblr.com/
https://nch.pt/
https://whalewatchingazores.com/pt
https://www.discover-azores.com/